segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TP4 – LEITURA E PROCESSOS DE ESCRITA - OFICINA 7 - PARTE I







 "... Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é,  antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade." (Paulo Freire)


LETRAMENTO


Constatou-se que uma das primeiras menções feitas deste termo correu em no mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística (1986) por Mary A. Kato, segundo Magda Soares (2003: 15).

O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras.


Durante muito tempo, pensava-se que ser alfabetizado era conhecer o código lingüístico, ou seja, conhecer as letras do alfabeto. Atualmente, sabe-se que, embora seja necessário, o conhecimento das letras não é suficiente para ser competente no uso da língua escrita.

 A língua não é um mero código para comunicação. A linguagem é um fenômeno social, estruturado de forma dinâmica e coletiva e, portanto, a escrita também deve ser vista do ponto de vista cultural e social.

Para dar conta desse processo de inserção numa cultura letrada, tal como a atual, utiliza-se atualmente a palavra letramento. A alfabetização (ou o conhecimento das letras) é apenas um meio para o letramento (uso social da leitura e da escrita).

Para formar cidadãos participativos, é preciso levar em consideração a noção de letramento. Letrar significa inserir a criança no mundo letrado, trabalhando com os diferentes usos de escrita na sociedade. Essa inserção começa muito antes da alfabetização propriamente dita, quando a criança começa a interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social: os pais lêem para ela, a mãe faz anotações, os rótulos indicam os produtos, as marcas ressaltam nas prateleiras dos supermercados e na despensa em casa.

O letramento é cultural, por isso muitas crianças já vão para a escola com o conhecimento adquirido incidentalmente no dia-a-dia. A escola deve continuar o desenvolvimento das crianças nesse processo, evitando as práticas que tornam a criança alfabetizada, com conhecimento do código, mas incapaz de compreender o sentido dos textos.


O professor deve tomar alguns cuidados para envolver o aluno no processo de construção da escrita, tais como:
• Criar um ambiente letrado, em que à leitura e a escrita estejam presentes mesmo antes que a criança saiba ler e escrever convencionalmente.
• Considerar o conhecimento prévio das crianças, pois elas levam para a escola o conhecimento que advém da vida.
• Participar com as crianças de práticas de letramento, ou seja, ler e escrever com função social.
• Utilizar textos significativos, pois é mais interessante interagir com a escrita que possui um sentido, constitui um desafio e dá prazer.
• Utilizar textos reais, que circulam na sociedade.
• Utilizar a leitura e a escrita como forma de interação, por exemplo, para informar, convencer, solicitar ou emocionar.

A ausência tanto quanto a presença da escrita em uma sociedade são fatores importantes que atuam ao mesmo tempo como causa e conseqüência de transformações sociais, culturais e psicológicas às vezes radicais.


Para Vygotsky (1984), o letramento representa o coroamento de um processo histórico de transformação e diferenciação no uso de instrumentos mediadores. Representa também a causa da elaboração de formas mais sofisticadas do comportamento humano que são os chamados “processos mentais superiores”, tais como: raciocínio abstrato, memória ativa, resolução de problemas etc.


Em termos sociais mais amplos, o letramento é apontado como sendo produto do desenvolvimento do comércio, da diversificação dos meios de produção e da complexidade crescente da agricultura.


Ao mesmo tempo, dentro de uma visão dialética, torna-se uma causa de transformações históricas profundas, como o aparecimento da máquina a vapor, da imprensa, do telescópio, e da sociedade industrial como um todo.


Vivemos inseridos num mundo diferente daquele de vinte, trinta anos atrás. Nossa sociedade está cada vez mais globalizada, mais complexa, exigindo um aprimoramento constante, criando novas necessidades.


Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita
(SOARES, 1998, p. 22).

Paulo Freire afirma que para o educador, o ato de aprender “é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito”.

O profissional de educação deve ser capaz de fazer sua interferência na realidade, o que certamente, gerará novos conhecimentos; o letramento é um fenômeno social; logo, essa intervenção que se faz necessária pode ser proporcionada por ele.  Saber ler e escrever um montante de palavras não é o bastante para capacitar o indivíduo para a leitura diversificada, neste ponto entendemos que surge a necessidade de se letrar os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem.

Para o educador se tornar um “professor-letrador” necessário se faz que, primeiramente, obtenha informações a respeito do tema, as suas dimensões e, sobretudo, a sua aplicação. Essa última é desenvolvida através de pesquisas e investigação, que geram subsídios-suportes.Entretanto, medrar subsídios para educadores é uma tarefa difícil de ser exercida, pois sabemos que alguns desses profissionais, num determinado momento, se colocam em uma posição quase inatingível, completos de suas certezas. Porém, se há mutações contínuas na sociedade contemporânea, e essas refletem em todos os setores, inclusive na escola, é lógico que a cristalização dos saberes do educador é um equívoco, pois o conhecimento nunca se completa, ou se finda, e o letramento é um exemplo claro disso.

Reconhecidamente, enfatizamos a importância da aplicação, ou a prática do letramento por parte do professor, e destacamos alguns passos fundamentais para o desempenho do papel do “professor-letrador”:
  •  investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano do aluno, adequando-as à sala de de aula e aos conteúdos a serem trabalhados;
  • planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como o aluno poderá utilizá-la;
  • desenvolver no aluno, através da leitura, interpretação e produção de diferentes gêneros de textos, habilidades de leitura e escrita que funcionem dentro da sociedade;
  • incentivar o aluno a praticar socialmente a leitura e a escrita, de forma criativa, descobridora, crítica, autônoma e ativa, já que a linguagem é interação e, como tal, requer a participação transformadora dos sujeitos sociais que a utilizam; 
  • avaliar de forma individual, levando em consideração as peculiaridades de cada indivíduo;
  •  trabalhar a percepção de seu próprio valor e promover a auto-estima e a alegria de conviver e cooperar.
 Contudo, as insuficiências do sistema escolar na formação de indivíduos absolutamente letrados não sucedem somente pelo fato de o “professor não ser um representante pleno da cultura letrada, nem das falhas num currículo que não instrumentaliza o professor para o ensino (KLEIMAN, 1995: 47), pois essas falhas são mais enraizadas, porque são produtos do modelo imposto pelo sistema padrão de ensino.
Quando nos dermos conta de que o processo natural de desenvolvimento do ser humano é massacrado pela escola, e por suas equivocadas práticas de ensino, seremos aptos a promover o letramento.




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